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sábado, 28 de dezembro de 2013

Ouvir Estrelas...


Ora ( direis ) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto...
Que, para ouví-las,
muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto

E conversamos toda a noite,
enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila.
E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem,
quando estão contigo? "

E eu vos direi:
"Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e e de entender estrelas

Olavo Bilac


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

DEGRAUS DO TEMPO ...

Bela poesia marcando a virada de ano, do Poeta, amigo de Facebook.

DEGRAUS DO TEMPO...

2013,
quem diria,
já estás indo embora...
Eu lembro quando tu chegou,
esperado,
ovacionado,
festejado
e recém começavas a existir.
Bastou que se formasse
a tua primeira célula temporal
para que estourassem fogos
em tua homenagem.
Isso é o que eu chamo
de já nascer famoso...
E agora que te vais
para nunca mais voltar,
o que será que dirão de ti?
Lembrarão?
Agradecerão por algum
pedido que atendestes?
Ou será que fostes um ano
sem brilho,
sem história,
que passou simplesmente
porque tinha que passar...
Sei lá,
o que na realidade eu sei
é que estive contigo,
exatamente pelo tempo
da tua passagem;
sei também,
que levas de mim um pedaço,
como tantos outros já levaram
para a eternidade.
Em troca,
te somas a mim
como mais 365 degraus
que subi na escada da evolução.
Vai com Deus velho ano...
Quando cruzares
com esse menino que se forma
e chega na carruagem do tempo,
se der tempo,
recomenda-lhe paz e amor
e que não se iluda,
com os fogos que pipocarão
na sua chegada.
Diga-lhe que olhe para a humanidade
como um todo
e tente recolocá-la
no caminho para Deus.
Adeus Ano Velho!
Bem vindo Ano Novo!
Deus queira que eu possa
falar bem de ti 2014,
ao fim dos teus
outros tantos degraus...!

(Poema de 2011, adaptado para 2013)

Rui E L Tavares

Dezembro 2013



sábado, 21 de dezembro de 2013

CRÔNICA DE NATAL: " O BOM DE SER CRIANÇA"


Acordo cedo e saio a caminhar pela casa. Entro na sala de estar, que ainda tem os destroços da festa. Papel de embrulho descartado, restos da algazarra que fizemos abrindo os presentes na noite anterior. Os cheiros da festa também ainda estão no ar. Bebida, peru assado.

Lembro que os presentes também tinham cheiro. Bola de futebol nova, por exemplo. As bolas eram de couro mesmo, com a cor natural e o cheiro do couro, e com cadarço. Você não sabia se já saía chutando a bola ou se guardava aquela preciosidade à salvo de chutes e arranhões, só para cheirar.
Lembro que no mesmo Natal em que ganhei minha primeira bola de tamanho oficial ganhei outro presente: um kit com uma estrela de xerife, um revólver, um cinturão de caubói com coldre e um cilindro cheio de fitas de espoletas. Colocava-se uma fita de espoletas no revólver e acionava-se o gatilho, fazendo estourar as espoletas. Outro cheiro inesquecível do Natal, o de espoleta recém-deflagrada. Sem saber escolher entre um presente e outro, eu afivelei o cinturão (com babados no coldre) em torno do corpo franzino e saí abraçado com a bola e dando tiros, iniciando uma carreira inédita de jogador de futebol caubói, até a mãe ordenarque parasse porque ninguém conseguia conversar na sala. E foi nesse Natal que conheci o Papai Noel.
Tinham anunciado que naquele ano receberíamos o Papai Noel em casa.

Ele não deixaria apenas os nossos presentes, misteriosamente, como das outras vezes. Apareceria. Em pessoa! E à noite lá estava o Papai Noel batendo na nossa porta, e sendo recebido por mim, minha irmã, um primo e várias crianças da vizinhança, todos de boca aberta. Era ele mesmo, não havia dúvida. A roupa vermelha grossa, o gorro, a barba branca, as bochechas rosadas e o saco.

O maravilhoso saco, de dentro do qual tirou nossos presentes - a bola de futebol, o revólver de espoleta, como ele sabia que era o que eu queria? Depois deu tapinhas na cabeça de cada um, disse qualquer coisa e desapareceu. Mais tarde entrei na cozinha e dei com o Papai Noel sentado, conversando com a cozinheira e tomando uma cerveja. Tinha tirado a máscara. Reconheci a sua cara suada: era o Bataclan, uma figura folclórica de Porto Alegre, um negro que fazia propaganda - "reclame", chamava-se então - na rua. Não lembro como eu racionalizei a revelação. Se deixei de acreditar no Papai Noel ali mesmo, se passei a acreditar que o Papai Noel, quando não estava em serviço, era o Bataclan, e vice-versa. Talvez não tenha concluído nada. O bom de ser criança é que a gente não precisa racionalizar.
Luiz Fernando Veríssimo.

 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Tempo pra pensar na vida...

Hoje o dia está tão lindo!
 Chove muito, venta bastante, o céu está preto, parece que as nuvens vão desabar na minha cabeça!
 Não posso sair de casa, pois nem o guarda chuva evitaria que me molhasse!
 Dizem que o final de semana vai ser todo assim!
 Nada de praia, nem passeio no parque!
 Mas ainda assim, o dia está tão lindo!
 Tão bom poder olhar pela janela e ver a agua correndo pela calçada...
 Melhor ainda é ficar protegida na minha cama quentinha, Clariceando e ouvindo o barulho da chuva batendo na janela...
 Ter tempo pra pensar na vida, e força pra ver os dias passando e o sol reaparecendo!
 Ter as melhores lembranças do passado, e boas perspectivas pro futuro!
 E o presente? Como o próprio nome ja diz, um presente que Deus me permite viver da maneira mais linda e o mais importante, em paz!
 Colocar as decepções e as alegrias na balança e ver que as coisas boas pesam mais...
 Ter motivos pra sorrir e não fazer ninguém chorar!!
 Sem dúvidas o dia está lindo! E será lindo enquanto eu quiser que seja, porque a beleza dos dias está nos olhos de quem os vê, e a doçura dos momentos está no coração de quem os vive!
 Decidi que meus dias serão todos lindos daqui pra frente e se por acaso eu não tiver força para vê-los assim em algum momento, vou pro quente da minha cama esperar os minutos passarem, e dormir no sossego da certeza de que tudo sempre melhora, os maus momentos passam rápido e alimentando os bons pensamentos a felicidade será consequência...
Karla Tabalipa


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Quis tanto ser tua paz...

"Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que eu tinha, era seu. "
 Caio Fernando Abreu

domingo, 1 de dezembro de 2013

Dezembro chegou...

Suponha que um anjo bata à sua porta. Não se espante: é final de ano e tradicionalmente, como os balões de junho, esta data é propícia ao aparecimento de anjos. Para evitar constrangimentos ou diálogos inúteis, você está sozinho em casa. Então o anjo bate, depois você larga o que estiver fazendo, abre a porta e convida-o para entrar e sentar, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como a coisa mais natural do mundo, quando chega visita, também porque faz calor, e ainda ou principalmente porque algo em você sempre soube que deve-se ser gentil com anjos, você pergunta se ele gostaria de beber alguma coisa. Evite fazer isso: afinal, o que um anjo bebe? Café parece inadequado, quente demais para chá, difícil imaginar refrigerante ou cerveja, uísque ainda mais, suco de frutas talvez? Não ofereça nada, sequer faça qualquer comentário sobre o tempo ou aquelas perguntas para forçar intimidades tipo então, como vaio Gabriel? Não, não pergunte nada. Pense apenas que, se um anjo bateu exatamente à sua porta nesta época do ano, e se tão exato entrou e sentou à sua frente, ninguém melhor do que ele saberá, com exatidão, o que fazer. Então espere. Não fique tentando descobrir se seria arcanjo, querubim ou serafim, nem se barroco, gótico ou medieval. Também tente serenizar a memória que certamente vai disparar feito computador, enumerando todas as imagens angélicas arquivadas desde a infância, ou até antes. Controle a tentação de achá-lo a cara daquele anjo da guarda com as mãos estendidas sobre as crianças à beira do abismo; afugente o anjo patético de García Márquez caído num galinheiro; esqueça o anjo cego Pygar carregando Barbarela pelos céus: um anjo é todos os anjos, sobretudo em dezembro. Concentre-se neste, pousado à sua frente. Suponha que você está sentado imóvel e calado à frente de um anjo em sua própria casa, numa manhã ou tarde ou noite deste dezembro. Isso dura algum tempo, parado feito um fotograma. E atenção: estou certo que só depois que o anjo perceber que você parou de corpo e mente, e portanto abriu-se para ele, aceitando-o sem ohs!, é que vai começar a falar. Não uma voz de som, compreenda, mas uma voz dentro de você mesmo, muito clara, embora de certa forma abstrata, porque não-sonora. Com essa voz e nesse momento, o anjo vai dizer a você que pode pedir qualquer coisa. Mas qualquer, qualquer mesmo?, você pergunta ávido. Calma, calma: chegamos ao ponto. Eu aviso porque sei que, quando o anjo falar, será muito fácil sua mente desenfrear-se desgovernada por carros, amores, apartamentos, viagens, iates e toda essa espécie de prazeres. Bastardos, bradará o anjo. Porque — atenção! — se você for pessoal, haverá em seguida um ruflar de asas, um clarão, e o anjo desaparecerá sem atender pedido algum, sem deixar nenhum sinal. É que, a grande revelação eu faço agora, os anjos deste dezembro não são pessoais. Concentrado e fervoroso, então, peça pelo País, por este onde estamos agora os três. Eu, você, o anjo. Que se banhe de luz, peça, e não só isso, peça abstrações como justiça, paz, dignidade, honestidade, e peça ainda o concreto de estradas, escolas, trabalho, comida. Feche os olhos, enumere tudo, com todos os detalhes. Não importa que demore muito, e certamente vai demorar: o País tem todos os defeitos do mundo. Mas os anjos, eles também têm todo o tempo do mundo. Agora abra os olhos. Suponha que você tenha terminado de ler este texto. Suponha que você não acredita em anjos. Suponha que você joga o jornal de lado aborrecido e assim nesse movimento de folhas voando, voa também entre elas uma pena pelo ar. Branca, leve, inconfundível. Que estranho, você pensa, parece de anjo. É neste momento que alguém bate à sua porta. Do livro: Pequenas Epifanias, de Caio Fernando Abreu