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domingo, 30 de março de 2014

Crônica da violência.


Se o Estado brasileiro ocupasse convenientemente os rincões esquecidos nas periferias, com assistência e educação, não haveria espaço para o crime organizado e a droga não seria a única oportunidade de trabalho e ganho para muitos jovens. Tampouco tantas vidas seriam atiradas no valão da inoperância política. A equação droga/vadiagem/violência não seria o descalabro que é hoje, e certamente não se resolveria de maneira a deixar rastros de sangue. A população dos morros e favelas silencia, é conivente, por medo e porque desenvolveu uma mórbida associação com o tráfico. Foi preciso conviver com ele, já que estava tão próximo e era um inimigo imbatível. A necessidade criou um comensalismo patológico que hoje rouba a cena nos jornais. O Estado, furtando-se à tarefa que deveria realizar, educando, conscientizando, utilizando obras sociais, lança mão de armas e caveirões, lança-chamas e o que mais servir para intimidar. Quer assim ganhar aplausos da população. E a dignidade das famílias que não têm outra opção senão morar nesses guetos? Mirando a paisagem social do Brasil de hoje, sou forçado ainda a concordar com a imagem que Gilberto Freire traçou da sociedade brasileira. A Casa Grande localiza-se à margem de belas praias enquanto a Senzala invade morros e vales. Imagina-se que, como em tempos coloniais, uma nada saiba da outra. A cortina entre esses dois mundos é tecida a balas de calibres diversos.
Marcio Leite

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