Envelhecer
não significa pintar os cabelos de branco, enrijecer as juntas, andar devagar.
Tampouco significa se agarrar a velhos hábitos, falar do passado ou contar as
baixas entre os amigos. Há muito mais coisa por trás do longo processo de
envelhecer do que essa caricatura. Envelhecer é troca, um negócio da vida, que
não nos dá nada sem levar algo. Envelhecer significa olhar do cume da montanha,
do fim da estrada, de além da curva do rio. É resistir a tempestades emocionais
com a tranquilidade dos anos, da riqueza que não está guardada em cofres. Ficar
maduro é pesar, compartilhar, doar(se). É compreender em detalhes os caminhos
dos outros, particularmente, os tombos; aceitá-los, saber que são
indispensáveis. É esperar a chuva sem precisar correr em busca de abrigo.
Maturar é arte, magia, descoberta. É serenar angústias despropositadas,
alimentadas uma vida inteira. É ver o tempo passar na janela sem medo de
perdê-lo, e sem querer desapontá-lo. Envelhecer é saber a meia distância, a
meia medida, reconhecendo sonhos inteiros. É tirar as máscaras, guardá-las
quando já não cabem. É ver as paisagens projetadas dentro de si, e descobrir o
essencial no olhar de cada ser. É escutar o silêncio e aprender com ele.
Envelhecer é ser o revés de um cego, de um surdo, de um aleijado. Pois, quando
nos faltam as habilidades óbvias, é que despontam as inusitadas. Envelhecer é
caminhar em direção à alma. É, certamente, um convite ao mundo das coisas
essenciais, exercício de desapego. É curso preparatório para a vida num planeta
de gravidade menor.
Marcio Leite
Domingo, 28/01/2018