(Imagem Pirentest)
Em mim, a poeira do quarto refletida num raio de sol, gera um sorriso. Parece a coreografia celestial das minúsculas fadas do ar. Demonstrações públicas de ternura causam estado de graça e vontade de abraço. Luzinhas de Natal fora de época emprestam uma felicidade duradoura ao meu coração. Alguém cantando no chuveiro confirma a existência daqueles prazeres que não sabem ficar contidos. Bolo que desmorona de tanto recheio acolhe
minha alma e me faz
lamber os lábios, quase vejo a confeiteira que não está ali,transbordando
afetos em seu feitio.
Em outros, um raio de sol refletindo poeira é sinal de
que a casa precisa de limpeza. Afeto em lugares públicos é inconveniente ou
inoportuno. Luzinhas de Natal são feitas para enfeitar dezembro, fora deste
contexto destoam dos ambientes. Quem canta no chuveiro não respeita o resto dos
moradores. Bolos que desabam são feitos por quem não sabe cozinhar.
Toda moeda tem duas faces, eu sei. Toda história tem
seu revés.
Não existe o certo ou o errado, também sei. Mas
suspeito que anda faltando poesia no mundo.
Pior que isso, anda faltando alegria.
Respeito as escolhas que incluem outros substantivos
que não a alegria: a reticência, a quietude, o desinteresse, a circunspeção e a
indiferença.
Respeito sim, respeito até as ausências.
Mas comigo não funciona. Não posso permitir que
alegrias escapem.
Já estive em lugares muito escuros e sei que elas são
faróis.
Minha alegria é conquistada, encho a boca para dizer.
Levo a sério. Fruto de uma insistência amorosa, da
minha paixão pela vida e de um descaso imensa pela rigidez.
Uma benção que aprendi no susto. E que não se ensina.
Meu patrimônio.
Tem horas que, claro, sinto um desabar, uma desistência
e confesso: flerto com o cansaço.
Mas nunca, nunca me relaciono com a ausência de
alegrias.
Não quero.
Posso até decepcionar quem acha que alegria em demasia
é esconderijo de dor, ou quem espera por olhares mais contidos e gestos mais
“maduros”, eu sei.
Não ligo. Seguirei sentindo alegrias. Sem mágoa alguma
por quem não o faz.
Só um lamento.
E uma torcida secreta para que, quem sabe um dia, por
sorte ou descuido, sejam surpreendidos por um abraço apertado, inesperado e
emocionado. Alegria é assim, não tem orgulho, é disponível.
Basta querer servir-se
Solange Maia
Do blog: Eucaliptos na janela
(luizameninmanfredi)
Nenhum comentário:
Postar um comentário